1 de jun. de 2014

CINQUENTONA






 Manoel Carlos -  Vejinha - 2005


       "...Eu me lembro de uma vizinha, quando eu era criança, que, quando foi subitamente abandonada pelo marido, provocou em minha mãe esta frase: "Pobre Dolores! Sozinha aos 50 anos! O que vai ser dela agora?". A consternação de minha mãe traduzia o que se pensava de uma mulher que tivesse ultrapassado a marca dos 25, 30 anos no máximo. Uma velha. Não sei o que aconteceu com a pobre Dolores, mas acredito que tenha arrastado por toda a vida a amargura e a desesperança. Atualmente, uma separação aos 50 anos pode ser o começo de um novo tempo, muitas vezes melhor, mais feliz do que o anterior. Sem contar que, nos dias de hoje, um casamento que vai mal das pernas não dura até a mulher chegar aos 50. Acaba antes, já que elas não carregam uma vida infeliz por muito tempo.
       Nas minhas novelas procuro retratar as mulheres maduras, essas que já passaram dos 40. São elas que tem as melhores histórias para contar, as confissões mais tocantes, as lembranças mais ternas, os episódios mais picantes. Que ainda sofrem e choram, sim, mas que não sofrem nem choram para sempre. E que, quando fazem 50 anos, dão festa, convidam os amigos, apagam as velinhas e fazem coro em causa própria, cantando o Parabéns prá Você!
       Por isso digo e repito: bem-aventuradas as cinqüentonas ! As que se renovam a cada dia, a cada instante, e que podem renascer incessante e indefinidamente, repetindo os versos de Cecília Meirelles:
       "Aprendi com a primavera a deixar-me cortar para voltar renovada”.

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