2 de mai. de 2009

PEQUENAS FELICIDADES

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre
uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia
morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em
silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem,
para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu
coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos,
sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como
refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes
um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu
destino. E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão
diante de cada janela, uns dizem que as coisas não existem, outros
que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que
é preciso aprender a olhar,
para vê-las assim.

Desconhecido a autoria.
Postado no papo de bar do forum Mineirim Jb
em 01/05/2009 pelo J Valdomiro.

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